Quinze anos atrás, quando era necessário ir para um lugar pela primeira vez, você procurava referências. Um amigo falava que você tinha que ficar de olho em determinado supermercado e virar na segunda à direita. Você se perdia e precisava parar para perguntar para um pedestre. E a resposta era: “volta ali, segue duas ruas pra direita, dobra na esquerda na terceira, contorna uma praça com duas árvores grandes, vira na direita de novo e segue reto”. A dica sempre terminava com o infame “não tem erro”, quase uma provocação ao inevitável destino de se perder de novo.
Em quinze anos, toda uma geração de usuários se rendeu a uma nova forma de se localizar. O Google Maps começou em um quadro branco rabiscado e uma ideia vendida para Larry Page: uma aplicação assíncrona que puxaria dados de mapeamento de cidades de um servidor externo e os exibiria em uma interface web, de forma fluida, gratuita e fácil de usar. A ideia virou uma ferramenta indispensável que domina o mercado e se tornou a base de uma revolução autônoma que colocará veículos inteligentes navegando por essas mesmas ruas sem nunca mais parar para pedir informação.
O começo
Em sua concepção, o que viria a ser o Google Maps foi criado por quatro engenheiros: Noel Gordon, Stephen Ma, Lars Rasmussen e Jens Rasmussen. Ele nasceu como uma aplicação em C++ para desktop, que deveria ser baixada pelo usuário e funcionaria de forma estática. Sua utilidade era obviamente limitada e seus criadores logo perceberam que poderiam utilizar o poder do Asynchronous JavaScript XML para portar o conceito para a web, permitindo utilizar a ferramenta em dispositivos móveis e navegadores.
“O surpreendente é que juntamos tudo isso e o colocamos em um navegador da Web, o que nunca havia sido feito antes”, relembra Gordon. Ele explica o diferencial: “isso tornou os mapas rápidos e fluidos, e foi uma experiência completamente diferente e ninguém tinha visto isso antes … A experiência fluida foi a coisa mais importante sobre os mapas”.
Essa ideia foi levada para o Google, que imediatamente assimilou o produto e seus criadores. No mesmo mês, a empresa adquiriu também a Keyhole, empresa de mapeamento por satélite que forneceria a base para a criação do Google Earth e, a nível mais específico, alimentaria o Google Maps. Era o casamento perfeito da ferramenta com as informações. Surgia ali uma aplicação que não encontraria concorrência ainda por muitos anos.
“O que mais me lembro daquele dia foi que tivemos, o que consideramos, um lançamento bastante surpreendente. Servimos cerca de 10 milhões de mapas no primeiro dia. Um ano depois, estávamos fazendo 60 milhões de mapas por dia e hoje são mais de um bilhão de pessoas usando o Google Maps todos os dias”, contabiliza Gordon.
Crescimento
Quem acompanhou essa evolução, se lembra que o Google Maps não tinha todas as ruas catalogadas no sistema. Para ser franco, em seus primeiros meses, ele não tinha nem mesmo todas as cidades. Entretanto, fazia parte da natureza do programa, projetado desde o princípio para ser incremental.
Ainda assim, já em setembro de 2005, meses depois do lançamento oficial, ele mostraria sua utilidade pública. No ápice da catástrofe do Furacão Katrina, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, o Google atualizou seus dados de geolocalização no mesmo período, revelando o nível do desastre, indicando locais seguros e regiões que deveriam ser evitadas. A agilidade do Google nesse momento se mostrou extremamente valiosa para refugiados e equipes de socorro.
Dois anos depois, o Google Maps ganharia versão específica para dispositivos móveis, integrando-se com o componente GPS para localização precisa do usuário. Na ausência de funcionalidade de GPS no aparelho, o aplicativo era capaz de rastrear a localização a partir de redes wi-fi e de telefonia. No ano seguinte, o Google Maps faria parte do pacote básico do recém-lançado Android e explodiria em popularidade e funcionalidade.
Com o passar dos anos, a plataforma passaria a incluir cada vez mais informações de comércio local, destinos e modos de visualização, mudando completamente a forma como pensamos o uso de mapas e a paisagem urbana. A partir de diferentes fornecedores, o Google conseguiu amplificar a frequência de atualização de seus dados ao ponto de poder fornecer informações quase em tempo real para determinadas localidades. Cruzando dados de usuários, o Google Maps também se tornou capaz de oferecer uma visão das condições de tráfego nas principais metrópoles, além de inúmeras outras comodidades que alguns usuários sequer conhecem.
Hoje, o Google Maps contém informações de 200 milhões de lugares e lojas em 220 países no mundo todo.
Os próximos 15 anos
Se o Google Maps se tornou parte vital de nossa relação com a tecnologia em apenas 15 anos, para onde vai a aplicação nos próximos 15 anos? É possível evoluir o que já está perfeito? De acordo com Jen Fitzpatrick, Vice-Presidente Senior da divisão Google Maps, a resposta para esta última pergunta é: “sim”.
Para ela, trata-se de concentrar não no mapa em si, não nas linhas de ruas e avenidas de uma cidade, mas no elemento pulsante do cenário, as lojas e os usuários, os prédios e suas relações com quem transita e usa o aplicativo. Fitzpatrick explica: “até recentemente, se você estava procurando uma fatia de pizza, obteria uma lista de 20 pizzarias próximas. (…) Agora, podemos ajudá-lo a achar todas as pizzarias próximas, quando elas estão abertas, quão lotadas elas estarão e qual delas terá os melhores sabores. Depois de decidir para onde ir, você pode facilmente fazer uma reserva ou ligar para o restaurante”. Não se trata mais de encontrar ruas, mas destinos.
Uma das metas do Google Maps para o futuro é alavancar cada vez mais a massa de dados fornecida pelos usuários sobre seus locais favoritos. Atualmente, todos os dias as pessoas contribuem com 20 milhões de novos elementos para o Google Maps, entre fotos, análises e classificações. A partir desses fatos, o serviço quer construir um retrato fiel da comunidade local.
Essa evolução na forma de encarar o Google Maps não irá deixar de lado o aspecto técnico. Recentemente, os algoritmos foram empregados para adicionar 20.000 nomes de ruas, 50 mil endereços e 100 mil estabelecimentos comerciais em Lagos, na Nigéria, onde a nomenclatura das ruas e a numeração não segue os padrões convencionais de outras regiões. Isso significa inclusão para lojistas e pedestres através do uso inteligente da tecnologia disponível e certamente esse uso será ampliado para outras localidades que passam pelo mesmo desafio. Além disso, com aprendizado de máquina, foi possível mapear mais prédios individuais em 2019 do que nos dez anos anteriores.
Fitzpatrick está confiante nesse futuro da ferramenta: “quando decidimos mapear o mundo, sabíamos que seria um desafio. Mas 15 anos depois, ainda estou admirada com a tarefa gigantesca. (…) O mundo real é infinitamente detalhado e está sempre mudando; portanto, nosso trabalho de refleti-lo de volta para você nunca está terminado”.