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O que a vitória de Donald Trump representa para as empresas de tecnologia?

Enquanto o mundo ainda assimila a vitória de Donald Trump  nas eleições para a presidência dos Estados Unidos, contrariando projeções e pesquisas de boca de urna, uma pergunta, entre tantas fica no ar: qual será o impacto dessa vitória para as empresas de tecnologia?

Sabíamos, antes mesmo do resultado das urnas, que o próximo presidente da nação mais poderosa do planeta e berço do avanço tecnológico há décadas teria uma crise eletrônica pela frente. Mas o que Donald Trump está trazendo para o cenário?

Embora o programa do candidato vencedor da corrida presidencial seja vago sobre vários tópicos, é possível arriscar um futuro para o setor de TI nos EUA em diversos segmentos.

Primeiramente, a reação na Bolsa de Valores foi de imediato pânico ainda durante as apurações, dada as incertezas que um agente imprevisível poderia adicionar à economia mundial. Mas esse pânico já dá sinais de que está se acalmando, à medida que a poeira assenta e Donald Trump, já na qualidade de presidente eleito, assume uma postura conciliadora. Então, não se deve esperar um abalo a curto prazo.

Entretanto, Trump já assinalou em diversos momentos que pretende “tornar a América grande novamente” e isso se refere, entre outras coisas, a trazer de volta a indústria da manufatura para território americano, sobretaxar produtos importados e, se possível, cortar a produção de componentes e equipamentos no exterior (especialmente a China) para estimular a indústria interna. Em outras palavras, é tirar o emprego do trabalhador estrangeiro subfaturado e colocá-lo de volta no mercado local, reduzindo o desemprego do setor industrial nos Estados Unidos.

Mas, como é bem sabido, essa estrutura globalizada de produção é seguida por literalmente todas as empresas de hardware há pelo menos duas décadas, incluindo aí as poderosas Apple e Microsoft e toda a indústria de computadores. Se colocadas em prática, as promessas de Trump podem sacudir e sacudir violentamente a cadeia de produção de produtos como iPhone, Surface e desktops, além de componentes eletrônicos, Internet das Coisas e praticamente tudo que tenha um chip embutido. Ao serem forçadas a trazerem de volta suas manufaturas para os Estados Unidos, as empresas sentirão um impacto significativo.

Outra plataforma política que ajudou a eleger Donald Trump é o controle mais rigoroso de imigrantes. Todo o Vale do Silício advoga há anos por uma abertura na legislação que concede vistos de permanência e trabalho para profissionais do exterior, dada a carência latente de mão-de-obra especializada capaz de suprir a demanda da colossal indústria de TI norte-americana. O ambiente atual em empresas como Facebook, Google e Microsoft é essencialmente multicultural e exige uma regulamentação mais favorável a imigrantes e suas famílias. Se, ao contrário, a legislação se tornar mais rígida para privilegiar o profissional local, na verdade irão faltar talentos para cobrir todas as vagas disponíveis, o que pode, inclusive, forçar algumas empresas a transferirem escritórios para países vizinhos, como Canadá ou México, ou mesmo Japão e Israel, esvaziando a efervescência do Vale do Silício.

Os planos de campanha de Trump para o campo da segurança eletrônica são, na opinião de especialistas, extremamente vagos e rasos e dedicam um bom espaço a apenas atacar as práticas adotadas por Hillary Clinton na segurança de suas próprias mensagens. Não se sabe ao certo se a vitória do Republicano irá significar um recrudescimento nas defesas dos Estados Unidos contra guerra cibernética, um aumento nos sistemas de monitoramento interno ou mesmo qual é a posição oficial do candidato em relação à questão da criptografia e da privacidade do cidadão.

Durante o embate entre a Apple e o FBI sobre criptografia, Trump criticou duramente a empresa por sua decisão de não colaborar em uma investigação e não fornecer uma “chave-mestra” de desbloqueio para o smartphone. Enquanto durou o impasse, ele chegou a sugerir um boicote contra produtos da Apple. Essa postura pode indicar que rumo sua administração irá adotar no quesito privacidade.

Em termos de Neutralidade da rede, a posição de Trump é bastante clara: ele acredita piamente que o princípio na verdade é um ataque contra a mídia conservadora. Sua plataforma de redução da ação do Estado na economia também poderá significar um retrocesso para a política adotada pela administração Obama, que colocou a FCC, agência reguladora das telecomunicações presidida pelo Democrata Tom Wheeler, como uma força de pulso firme sobre operadoras de internet. Trump já dialogou com empresas de vários setores e se comprometeu a desregulamentar em ampla escala e a internet deverá seguir a mesma linha.

Todavia, pode-se esperar também um viés contrário, com um aumento de interferência do Estado na internet: Trump já proclamou textualmente que gostaria de “fechar” a internet para evitar a expansão de grupos radicais islâmicos, como o ISIS.

Independente das previsões, com as principais casas do poder Legislativo, parte do Judiciário e a principal posição do poder Executivo nas mãos do Partido Republicano por vontade das urnas, Donald Trump tem o poder e o apelo popular para colocar em prática mudanças significativas em toda a economia global, não apenas no setor de TI, não apenas no que tange à população norte-americana. Para todos nós do lado sul do Grande Muro, nos resta apenas aguardar suas decisões a partir do ano que vem, quando assume o cargo.