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Por que eu decidi não migrar para o Windows 11 agora

O Windows 11 já está disponível para quem quiser (e quem puder) instalar. Foi lançado meio no susto pela Microsoft, como o sucessor de um sistema operacional que não deveria ter sucessores. Dez era um número perfeito para isso, onze parece um exagero, um esticar de corda que deixa em aberto um novo ciclo de Windows 12, 13, 14…

Há mudanças significativas que justifiquem uma nova iteração do sistema operacional, a quebra do paradigma prometido anteriormente? A transição entre o Windows 10 e o Windows 11 guarda mais semelhanças com a evolução que houve entre o Windows 98 e o infame Windows Me do que a ruptura que aconteceu entre o Windows XP e o Windows Vista. De um jeito ou de outro, não deve agradar a todos, mas a migração será inevitável mais dia menos dia, por questões de suporte e, principalmente, por questões de segurança. Entretanto, é importante lembrar que o Windows 10 terá suporte garantido até 2025.

O Windows 11 é inerentemente mais seguro que seu antecessor, até por exigir tecnologias de hardware que reforçam a proteção do sistema como um todo, uma real novidade no ecossistema Windows. Ainda que os requisitos pareçam draconianos, eles deverão ter um impacto significativo na segurança, desde, é claro que os usuários não cliquem em qualquer anexo de email que chegue até eles prometendo “as fotos daquela festa” ou outras iscas similares.

Ainda assim, encontro-me ressabiado com a possibilidade de uma migração tão abrupta. o Windows 10 tem se mostrado o sistema operacional mais estável da Microsoft que já passou por minhas mãos. Uma prova incondicional, ainda que pontual, dessa relação está no fato de que migrei do Windows 7 usando sua ferramenta automática e nunca mais formatei a máquina. Deveria? Certamente, visto o acúmulo de restos de programas no HD e a poluição do registro, mas até hoje não encontrei nenhum problema de uso que uma Restauração de Sistema não resolvesse.

O Windows 11 pode então representar a tábula rasa de meu PC, um recomeço limpo e possivelmente com ganho de performance e novos recursos. Por outro lado, sinto que existem bons motivos para eu aguardar mais alguns meses:

Familiaridade

O primeiro obstáculo, evidentemente, é que não se mexe em time que está ganhando. Nós seres humanos nos adaptamos a determinadas rotinas de produtividade em nossa relação com a interface e, por mais que os arquitetos de usabilidade acreditem ter encontrado uma forma melhor de interação, é sempre necessário um período de adaptação.

Por exemplo, nunca adotei o modelo de menu Iniciar que a Microsoft tornou padrão em seus últimos sistemas operacionais. Passei batido pelo esquema de duas colunas e pelo, na minha opinião, caótico esquema de múltiplas tiles, misturando aplicativos, notícias e outros penduricalhos introduzidos no Windows 10. Graças ao poder do Classic Shell, mantenho o layout ancestral do Windows 98. Embora use pouco o menu Iniciar, uma vez que concentro os ícones dos programas mais utilizados na Área de Trabalho, quando eu o uso, eu sei exatamente onde está cada atalho que preciso.

Quem não tem a prática de customizar sua experiência de usuário e utiliza o Windows da forma que ele é instalado provavelmente constitui a maior fatia de seus usuários. Essa grande fatia de consumidores certamente vai se perguntar porque a Barra de Tarefas está centralizada agora, por que o botão Iniciar não está fixo em um canto ou por que mexeram na forma de renomear arquivos no Explorador e levará um certo tempo para se adaptar às mudanças.

Essa não seria a primeira vez que a Microsoft mexe demais na UI. A estética Metro do Windows 8 rendeu uma rejeição forte, que levou a empresa a recuar e lançar um Windows 8.1 mais amigável.

Perda de performance para jogos

No marketing, a Microsoft insiste que o Windows 11 é o melhor sistema operacional para se jogar já lançado por ela, uma ladainha que vem se repetindo desde o Windows Vista e carece de comprovação lançamento após lançamento. Entretanto, e isso sim é novidade, o Windows 11 vai inegavelmente prejudicar alguns jogadores e não há muito para ser feito para mitigar esse impasse.

A grande verdade é que a performance dos PCs tem se tornado progressivamente superior porque se vinha sacrificando segurança em troca de velocidade. Para se obter alguns ciclos a mais de processamento, estávamos expondo nossos sistemas a potencial exploits justamente por pegar atalhos. Com a impactante falha Spectre, ficou evidente que essa troca tinha um preço.

Fabricantes de hardware pegaram o caminho inverso a partir de então e travas de proteção físicas passaram a ser embutidas em chips. O tal TPM, que está dando dor de cabeça para muitos usuários na hora de verificar a compatibilidade com o Windows 11, é um desses recursos.

O que isso significa? Trocando em miúdos, a Microsoft vestiu a camisa e trocou performance por mais segurança. Na prática, testes de laboratório comprovaram que há uma queda média de 28% na taxa de frames de jogos eletrônicos. Isso acontece por causa do recurso do Virtualization-Based Security (VBS), uma ferramenta nativa que executa programas em um ambiente lacrado virtualizado por hardware. Isso significa que o Windows 11 irá rodar seus jogos dentro de uma espécie de máquina virtual, então qualquer vulnerabilidade que o jogo possa ter estará isolada do resto do sistema operacional.

É uma probabilidade ínfima (quantos jogos de PC foram vetores de ataques na última década?), mas ativada por padrão. Felizmente (ou infelizmente), o VBS não está presente em todas as instalações do Windows 11. Ele é uma ferramenta para PCs corporativos e virá em versões OEM do novo sistema operacional ou em atualizações de licenças corporativas. Então, se você e seus colegas de trabalho praticam aquele Counter-Strike de lei depois do expediente, esperem queda de performance.

Bugs

Por melhor que sejam as práticas de desenvolvimento, não há como evitá-los. Então, código novo significa bugs novos. Já há relatos de pequenos aborrecimentos no Windows 11, nada realmente preocupante, porém, por que se submeter a falhas agora que certamente serão corrigidas nas próximas semanas ou meses?

Recursos ausentes

O principal chamariz de uma mudança de sistema operacional são as funcionalidades inéditas que não existiam na versão anterior. Nesse quesito, as melhores promessas do Windows 11 continuam no campo da promessa. É alarmante que a Microsoft tenha anunciado recursos de peso mas lançado o seu novo sistema operacional sem essas ferramentas, que serão implementadas mais tarde, como se isso fosse normal. É o equivalente a vender um lanche em uma lanchonete de rede, mas o refrigerante só será entregue na semana que vem e as batatinhas não tem previsão de lançamento.

Aplicativos Android

Definitivamente, a possibilidade de se rodar aplicativos Android nativamente em ambiente Windows é uma daquelas funcionalidades capazes de alterar todo o ecossistema. É evidente que o PC perdeu espaço para os dispositivos móveis na última década e toda uma geração de usuários se tornou consumidora de aplicativos em seus celulares. Recuperar parte desse público é vital para a Microsoft e a possibilidade de trazer esses aplicativos para o ambiente Windows parece um passe de mágica para resolver essa questão.

Ao mesmo tempo, o recurso desafogaria desenvolvedores que vinham tendo trabalho triplicado para criar seus produtos para Android, iOS e Windows. Com o Windows 11, pelo menos uma dessas plataformas teria uma espécie de port automático. Além disso, a Microsoft Store poderia finalmente ganhar a respeitabilidade que ela tanto busca. Portanto, é inegável que a funcionalidade quebraria barreiras, com resultados impactantes.

Entretanto, não vai ser desta vez, por enquanto. De acordo com a Microsoft, o suporte a aplicativos Android ainda não está pronto. Nos próximos meses, a funcionalidade será testada dentro do programa Windows Insider. O usuário final só deverá ter acesso a esse recurso em algum momento de 2022.

DirectStorage

Por um lado, o Windows 11 pode trazer perda de performance para jogos (se o seu sistema operacional está em uma versão corporativa). Por outro lado, ele pode acelerar o carregamento do jogo e suas fases graças à tecnologia de armazenamento DirectStorage. Essa é a mesma ferramenta em uso agora no Xbox Series X|S. Na prática, ela permite que o jogador retome o jogo do ponto em que parou de forma quase instantânea, como se ele estivesse pausado todo esse tempo.

É importante salientar que o DirectStorage irá exigir um SSD NVMe de pelo menos 1TB de espaço em sua máquina, uma configuração que certamente não é tão popular ou acessível, mesmo entre o público gamer. Além disso, o DirectStorage não é uma via de mão única: os desenvolvedores de jogo precisarão ter implementado o suporte ao recurso em seus títulos. Em outras palavras, é uma ferramenta importante e que certamente se tornará um padrão nos jogos nos próximos anos, mas sua disseminação irá demorar…

Na verdade, vai demorar ainda mais do que se imagina, porque o suporte ao DirectStorage não foi lançado junto com o Windows 11. Essa é outra funcionalidade prometida que ficou no esquema “na volta a gente compra”. De qualquer forma, a Microsoft também prometeu levar o recurso para o Windows 10, se você está pensando em permanecer no sistema operacional anterior por mais um tempo.

Gartner fechou comigo

Ser um Early Adopter e trabalhar com tecnologia parecem ser sinônimos, mas nem sempre precisa ser assim. Essa é uma das mais inesperadas ou desnecessárias transições de sistema operacional Windows, um acontecimento atípico ou talvez apenas mal-conduzido pela Microsoft. Inevitavelmente, o Windows 11 fará parte do meu dia a dia, mas acredito que o momento de migração não seja agora.

Essa é a opinião compartilhada pela consultoria Gartner. Stephen Kleynhans, vice-presidente de pesquisa da empresa de análises afirmou categoricamente que todos os novos recursos do Windows 11 “poderiam ter sido lançados apenas como mais uma atualização de recurso para o Windows 10”. Kleynhans critica o surgimento do Windows 11 e considera o novo sistema operacional mais uma estratégia de marketing da Microsoft do que um produto novo que justifique ter seu próprio nome.

Consequentemente, a recomendação de seu levantamento é que os clientes da Gartner não façam uma atualização imediata, mas avaliem a situação e se organizem para uma migração futura: “as empresas devem executar pequenos pilotos em 2022 usando o lançamento inicial do Windows 11 21H2, para desenvolver familiaridade com o novo UX e entender o impacto potencial do usuário e do suporte”.

A previsão da Gartner é que menos de 10% dos usuários corporativos terão adotado o Windows 11 até o começo de 2023.