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Por Que Você Deveria Aprender a Programar

Chris Bosh é um superastro da NBA. O jogador do Miami Heat já participou de mais de 640 partidas em 11 anos de carreira. Traz no peito uma Medalha de Ouro Olímpica, conquistada junto com a seleção americana em 2008. Ele acredita no poder da educação e na transformação de mundo que o aprendizado de programação em específico pode provocar em uma pessoa. Em um emocionante depoimento publicado na Wired, ele defende o ensino de ciências, tecnologia e o bom e velho código binário.

Transcrevemos seu texto na íntegra abaixo:

“Eu entendi. Parece algo tolo pedir que todo mundo – do sem teto a crianças bem pequenas – aprenda a programar. Há questões mais profundas que precisam ser corrigidas no “sistema” também.

Mas eu não acho que isto signifique que nós devamos descartar o valor do aprendizado da programação.

Chris Bosh

Sendo um garoto nos anos 90 e vivendo em uma casa onde os dois pais eram fissurados em tecnologia, eu comecei a perceber que o mundo ao meu redor estava girando em um eixo alimentado por diferentes padrões de 1s e 0s. Nós seríamos tolos em ignorar o poder de controlar e desenhar e codificar estes padrões. Se a força bruta dominou uma era e a automação dominou a seguinte, este é o único caminho que nós podemos seguir. A maioria dos empregos do futuro será oferecida para aqueles que sabem como programar.

Nós usamos códigos toda vez que estamos no telefone, na web, no shopping – se tornou a forma como nosso mundo é. Então me conforta ter uma noção básica de como algo tão grande quanto isso funciona.

Para a maioria dos atletas, o esporte que eles acabam transformando em uma carreira foi decidido na escola. Para mim, tudo começou no colégio. É onde tudo acontece. De um lado, você está crescendo rápido e se tornando muito bom em esportes, do outro lado tem adultos por toda a parte dizendo que você precisa tentar coisas diferentes, descobrir o que você gosta e o que você não gosta, que você precisa de um plano. É um bocado de pressão para esta idade.

Apesar de saber que minha jaqueta repleta de condecorações está pendurada até hoje no ginásio do Lincoln High, eu sabia bem antes de estar na NBA que para me sentir seguro com o meu futuro – nosso futuro, na realidade – eu precisaria ser capaz de manipular aqueles 1s e 0s. Para minha sorte, ter pais extremamente geeks que estavam constantemente testando aparelhos e exibindo habilidades insanas no AutoCAD me ajudou a empurrar minhas mãos em direção a um teclado e aprender a programar quando elas não estavam segurando uma bola de basquete ou bloqueando um arremesso do oponente.

Desde que eu me lembro, minha mãe tinha um serviço chamado Computer Help. Então, basicamente, eu cresci rodeado de computadores. Mais tarde, ela trabalhou para a Texas Instruments. Nós costumávamos vir para casa depois da escola e minha mãe trazia todos aqueles gadgets de tecnologia para a gente testar e brincar um pouco; eu ainda me lembro das primeiras câmeras digitais! Quando as pessoas ainda estava usando AutoCAD, meu pai fazia esquemas de instalação hidráulica, engenharia e design para um punhado de empresas diferentes.

Chris Bosh - na escola
Chris Bosh – na escola

Eu tenho sorte porque meus pais se esforçaram para nos conseguir um alto padrão quando se tratava de educação, e eles eram motivados pela ciência. No ensino médio, eu me juntei a um clube chamado Wizkids, um clube de computação gráfica, por dois anos. Eu sempre senti como se estivesse no meu elemento, meu ambiente era ali. Eu também me juntei à Association of Minority Engineers and NSBE (the National Society of Black Engineers) durante meu ano de graduação.

Eu recebi meu diploma de ensino médio, mas não me formei na faculdade. Embora eu tenha ficado apenas um ano na Georgia Tech, eu mantive um forte interesse em ciências e uma paixão por educação. Eu sabia que eu tinha esta alternativa. Em um determinado ponto, a maioria dos atletas profissionais tem que se perguntar ‘e se isto não funcionar?’. No meu caso, eu acho que teria gostado de lecionar para crianças pequenas sobre ciência da computação e programação – quanto mais novos, melhor.

O engraçado de programação é que eu realmente não sabia o que era programação quando eu estava descobrindo design gráfico e computadores no colégio. Programação é a base de quase todas as tecnologias. Se alguém na escola tivesse me explicado que eu poderia atingir milhões direta ou indiretamente e tornar suas vidas melhores, eu teria me interessado muito mais cedo. Mas eu acho que as pessoas de alguns anos atrás não entendiam de verdade o impacto que a programação teria no mundo de hoje.

Como qualquer bom jogo de basquete, nós ainda podemos virar esta partida.

Embora meu interesse principal neste momento em minha vida seja o basquete, eu ainda continuo a aprender e descobrir. Eu gostaria de ensinar a crianças sobre como programar por que as possíveis aplicações são fascinantes e é realmente simples quando você pensa no assunto. E embora você possa dizer ‘mas você não usa isso na sua carreira’ – eu argumentaria que eu uso sim. Eu aprendi muitas lições de vida dentro e fora da quadra

Neste sentido, aprender a programar é simplesmente entender como o mundo funciona.

Além do mais, é bacana. Embora eu tenha me destacado no basquete, eu passei por muitas situações iguais àquelas que muitos dos meus colegas de programação tinham que lidar antes de tecnologia se tornar algo ‘cool’ – provocações. Ainda que a maioria das pessoas não consiga imaginar quem tentaria zoar alguém com mais de dois metros de altura, havia alguns garotos que me infernizavam. Eu tinha a felicidade de ter o atletismo para me dar confiança em minha nerdice. Eu era bom no basquete, então eu fui capaz de traçar meu próprio caminho e ignorar o que as pessoas pensavam.

Eu já assisti inúmeros vídeos de mim ao longo dos anos – em jogos, clipes musicais, comerciais – mas ver eu mesmo no Code.org foi um dos momentos mais legais da minha vida. Quando fãs começaram a me tuitar dizendo que seus professores haviam mostrado a eles o vídeo de mim ao lado de alguns dos mais  famosos ícones da tecnologia no mundo, eu entendi o que estava claro: os nerds haviam finalmente concretizado sua vingança.

chris-bosh-coding

Eu sou o jogador do Miami Heat com o número ‘1’ nas costas da minha camisa. Para mim, vencer não é ‘winning’ – é 01110111 01101001 01101110 01101110 01101001 01101110 01100111 (isto é W-I-N-N-I-N-G em código binário).”

Assista ao vídeo sobre a Code.org.