A hora final do Windows 10 está chegando? Há vários indícios nesse sentido. O outrora Windows definitivo pode estar com os dias contados e um possível Windows 11 pode ser revelado em um evento especial, no dia 24 de junho.
O primeiro sinal de que havia algo no horizonte veio em maio desse ano, diretamente da boca de Satya Nadella, CEO da Microsoft. Durante sua breve apresentação no evento Build 2021, o executivo afirmou (negrito por nossa conta):
“O Windows está implícito. Nunca foi tão importante. O Windows 10 é usado por mais de 1,3 bilhão de pessoas para trabalhar, aprender, se conectar e se divertir. E tudo começa com o Windows como uma caixa de desenvolvimento. O Windows reúne todas as suas ferramentas de desenvolvedor e colaboração em um só lugar. Ele permite que você escolha o hardware que deseja, funciona com Linux e Windows como um só e tem um terminal moderno. E em breve compartilharemos uma das atualizações mais significativas para o Windows da última década para desbloquear uma maior oportunidade econômica para desenvolvedores e criadores. Eu estou usando-o eu mesmo nos últimos meses e estou extremamente animado com a próxima geração do Windows“.
Em uma década que nos trouxe o Windows 8 e sua revolução (ainda que falha) na forma como se abordava o desktop e o próprio Windows 10 e seu conceito de “Windows como serviço”, são palavras ousadas declarar que teremos “uma das atualizações mais significativas para o Windows da última década”. A menos é claro que a tal “próxima geração do Windows” seja mesmo o sucessor do Windows 10 e não uma outra atualização semestral com um punhado de recursos.
Em 2 de junho, a Microsoft publicou um convite oficial do Windows. para um evento virtual que irá acontecer no dia 24 de junho, às 11 ET. É interessante observar que a empresa tradicionalmente agenda seus eventos utilizando o padrão PT (Pacific Time). A escolha por adotar ET (Eastern Time) excepcionalmente nesse caso só se justifica para se chegar no “11” no horário.
Seria essa uma pista muito vaga? A imagem utilizada para anunciar o evento também levanta suspeitas:
Join us June 24th at 11 am ET for the #MicrosoftEvent to see what’s next. https://t.co/kSQYIDZSyi pic.twitter.com/Emb5GPHOf0
— Windows (@Windows) June 2, 2021
É evidente na animação que a sombr da barra horizontal foi removida da luz que entra pela janela. Os dois feixes luminosos formam duas barras verticais, que podem ser interpretadas como… um “11”.
Para adicionar um pouco mais de lenha na fogueira dos teóricos da conspiração, a própria Microsoft alterou a data de validade do Windows 10 em sua página de suporte. A partir de agora, o atual sistema operacional tem dia marcado para seu encerramento: sua Data de Baixa é 14 de outubro de 2025.
O que está acontecendo nos bastidores?
Então, vamos partir do suposto que o Windows 10 verá seus dias de “Windows como serviço” encerrados. Por que isso aconteceu? O que fez a Microsoft rever sua estratégia original e programar uma nova versão do seu sistema operacional?
Basicamente, uma troca de comando. Ninguém que participou da meta do “Windows como serviço” trabalha mais na Microsoft. Terry Myerson já foi chamado de “o homem mais importante da Microsoft” em 2013 e comandou a revolução que seria o Windows 10. Ele foi, ao mesmo tempo, o chefe das operações de sistemas operacionais Windows , ecossistema Xbox, Surface e a linha HoloLens. Porém, em 2018, Myerson saiu da empresa. Isso pode ter significado o começo do fim para o Windows 10.
Em seu lugar, ascendeu Panos Panay, até então o “pai do Surface”. Fontes nos bastidores indicam que Panay está interessado em deixar sua marca no Windows. Isso significaria uma espécie de rebranding da marca, acompanhada de uma mudança na interface de usuário. Na prática, o “próximo Windows” poderia vir como uma atualização do Windows 10, mas Panay teria optado por uma ruptura mais radical.
Entretanto, o que se comenta é que o Windows 11 não vai mudar uma vírgula na estratégia de negócios do sistema operacional. Ele também seria um “Windows como serviço”, haveria um upgrade gratuito a partir do Windows 10 e abriria um precedente para um futuro Windows 12 com o mesmo processo. Por outro lado, conceitualmente, um Windows 11 teria uma boa resposta de fabricantes de hardware, aqueceria vendas e daria uma sacudida na marca.
Como seria o Windows 11?
As bases estéticas para o Windows 11 já existem. O extinto projeto Windows 10X pode servir como inspiração para o redesign. Originalmente, ele serviria para dispositivos com duas telas, a Microsoft reviu tudo para dispositivos de uma tela só e depois engavetou. Ainda assim, vazaram na internet diversas telas do suposto Windows 11 que são muito semelhantes ao que se conhecia do Windows 10X.
Confira a galeria:
Visualmente, nenhum elemento do Windows 10 foi deixado intacto. A Barra de Tarefas agora mantém os ícones centralizados, a área da bandeja foi enxugada, o menu Iniciar está completamente diferente e, pela primeira vez na História, as janelas do Windows tem bordas arredondadas.
Por baixo do verniz, que pode ou não agradar os usuários, há outras mudanças mais significativas à caminho. Para os desenvolvedores, há a chance de uma melhoria na Microsoft Store. Não é de hoje que a Microsoft deseja que sua loja se torne uma referência para aquisição de software no ecossistema Windows da mesma forma que Apple e Google conseguem com seus sistemas operacionais móveis e suas lojas proprietárias.
Porém, a ideia não é trancar o usuário na Microsoft Store, mas abrir ainda mais as portas para que os desenvolvedores coloquem seus programas para distribuição ali. Uma das metas é liberar os desenvolvedores da necessidade de empacotar seus programas no padrão dos aplicativos do Windows 10. Outra mudança liberaria os criadores para hospedarem seus softwares em seus próprios serviços de CDN. Pelas novas regras que estariam vindo, até o Google Chrome poderia encontrar seu espaço na Microsoft Store.
Outra mudança mais especifica ainda para o Windows 11 seria o Cálice Sagrado dos dispositivos ARM. De acordo com fontes internas, a Microsoft finalmente iria liberar emulação de aplicações de 64-bits para dispositivos com processador ARM.
Precisamos do Windows 11?
Reza a lenda que a Microsoft acerta sistema operacional sim, sistema operacional não. Depois do mediano Windows 98, veio o catastrófico Windows Me. Depois do duradouro Windows XP, veio o odiado Windows Vista. Depois do amado Windows 7, veio o confuso Windows 8. Agora estamos no bem aceito Windows 10, logo…
Brincadeiras à parte, a grande atualização da década prometida por Nadella pode ser nada mais nada menos que um Windows 10 Parte 2. A Microsoft vai ter que apresentar algo realmente revolucionário ou surpreendente para convencer os usuários para uma migração depois de tanto tempo. O atual sistema operacional completa seis anos de idade agora em 29 de julho e nenhum Windows durou tanto tempo assim no passado. Com 1.3 bilhão de usuários, o Windows 10 é o maior concorrente do Windows 11.
Com um marketing baseado em segredos, a impressão que se tem é que nem a própria Microsoft está confiante no que vem por aí. Ou então está com vergonha de admitir que seu Windows definitivo não é tão definitivo como eles diziam anos atrás.
Para a analista digital Shira Ovide, do The New York Times, “não muito tempo atrás, um novo modelo de software Windows era um momento marcante da tecnologia. Agora, uma estreia do Windows é basicamente um não-acontecimento. Isso mostra que a tecnologia evoluiu de uma sucessão de momentos de big bang para algo tão integrado em nossas vidas que muitas vezes não percebemos”.
É importante lembrar também que o desktop perdeu o centro do universo da tecnologia. As telas que estão diante de nossos olhos na maior parte do tempo pertencem a dispositivos móveis, uma área da qual a Microsoft bateu em retirada.
Não que a Microsoft tenha perdido sua relevância no cenário. Longe disso. A gigante de Redmond apenas tirou o foco do sistema operacional. Com serviços de nuvem poderosos, desde o backend do Azure até sua suíte de escritório rodando como assinatura, a Microsoft manteve um posicionamento ímpar, ainda que longe da revolução móvel diretamente.
A grande verdade é que o Windows se tornou “implícito”, como Satya Nadella destacou. Sua presença não é mais celebrada (ou odiada) como no passado e cada nova mudança vem em pequenos saltos, nada mais tão disruptor como antes.
Para Ovide, “o lançamento do Windows mudando de algo grande para algo que um escritor profissional de tecnologia não esperava reflete no que a tecnologia se tornou. Não é mais estritamente o objeto novo e brilhante que sai de uma caixa de vez em quando. A tecnologia está ao nosso redor o tempo, e é perfeitamente normal”.
O Windows 10 simplesmente está ali, quase imperceptível, como toda boa interface tecnológica deveria ser.