Categorias

Conheça a trajetória da brasileira Gina Gotthilf e do aplicativo Duolingo

Duolingo, o aplicativo de aprendizado de linguagens mais popular do mundo, está cada vez mais crescendo. De escolas na Guatemala até a Casa Branca, o app se tornou uma febre entre jovens e adultos que querem aprender línguas sem gastar um centavo.

E por trás de todo esse sucesso, além dos fundadores do app, está a brasileira Gina Gotthilf.

duolingo-casa-branca-barack-obama

Com 29 anos, Gina já foi filosofa, trabalhou com empresas como Mattel e Luis Vuitton e ajudou a trazer o Tumblr para o Brasil.

Nós tivemos o prazer de conversar um pouco com ela e perguntar tudo sobre seu currículo diverso, o encontro com Barack Obama e como será o futuro do Duolingo. Vem ver!

– Dando uma olhada no seu Linkedn, dá para ver que você tem um grande background! Como você passou de estudar Filosofia à Neurociência, e depois saltar para o mundo da tecnologia com o Tumblr e Duolingo?

Quando fui estudar filosofia, não sabia o que queria fazer da vida. Quando percebi que meu currículo não apresentava nenhuma habilidade em especial (fora pensar!), acabei indo trabalhar em um laboratório de neurociência porque achei que isso me daria mais linhas no currículo [risos].

Acabei aceitando trabalhar em uma agência de mídias digitais, apesar de que não era essa a minha vontade, porque precisava muito de um visto para ficar nos Estados Unidos e foi assim que eu comecei a trabalhar nesse mundo digital.

Trabalhei com diversos clientes e marcas de luxo, e uma delas era a American Express. Pensei que seria legal fazer um Tumblr, e como ainda não existiam muitas marcas na plataforma, entrei em contato para perguntar se eles tinham sugestões. Acabei conhecendo por telefone o Mark Coatney, diretor de mídias do Tumblr.

Muitos meses depois, o Tumblr tinha interesse de crescer no Brasil e acabou me chamando para ajudá-los temporariamente. O temporário acabou virando permanente e foi assim que eu virei diretora da plataforma.

Depois resolvi abrir minha própria empresa no Brasil para ajudar startups e empresas de tecnologia a entrarem no mercado latino-americano e no Brasil, mas durou pouco porque um dos meus clientes, o Duolingo, acabou me fazendo uma oferta de emprego.

É uma longa história, mas o mais interessante é que muita gente pensa no que quer ser quando crescer para tentar fazer trajetórias de vida mas eu nunca tive uma. Gostaria muito de fazer planos mas não consigo enxergar cinco passos na frente – só foco no próximo.

– Você sempre teve um interesse em tecnologia ou foi algo que só aconteceu depois de trabalhar com desenvolvimento internacional para o Tumblr?

Eu tinha interesse pela internet, sim, mas nunca pensei que fosse trabalhar na área.

– Como foi passar de uma plataforma social como o Tumblr para um app de aprendizagem como o Duolingo? Porque, apesar dos cargos serem bastante semelhantes, deve ser um ambiente completamente diferente agora, certo?

Foi diferente, mas o passo foi menor do que entre os trabalhos que eu fiz antes – por exemplo, de escrever posts no Facebook para a Louis Vuitton até descobrir como fazer uma plataforma digital (o Tumblr) crescer em novos mercados.

O Duolingo era uma empresa muito menor – só tínhamos três milhões de usuários. Hoje temos 100 milhões. E tinha apenas vinte funcionários. O Tumblr tinha 100.

Mas ao mesmo tempo era uma responsabilidade muito maior, porque eles pediram para eu vir para os EUA e tocar toda a [área] de marketing e crescimento internacional e também nacional.

– E como você está se sentindo sobre o Duolingo na América Latina? Ela está recebendo a atenção que vocês esperavam?

Uma das características de empresas de sucesso é que elas nunca estão felizes com os números. [risos]

Mas a gente está muito feliz no sentido de que o Brasil é o segundo maior país do Duolingo. Temos mais de oito milhões de usuários agora. Começamos a trabalhar com governos aos poucos – por exemplo Itatiba e Santo André começarão a usar o Duolingo nas salas de aula em breve!

O governo da Colômbia está usando o Duolingo com mais de 60 mil pessoas. Termos 3 grandes parecerias com eles.

Mas como brasileira, não desisto nunca do Brasil. [risos] Quero trabalhar com o nosso sistema educativo de uma forma muito maior.

– O Duolingo agora trabalha com salas de aula em lugares como Guatemala e Costa Rica. Como isso está funcionando? Vocês têm outros países em mente para o futuro?

É o Duolingo For Schools, criado para facilitar o uso do Duolingo na sala de aula. Funciona muito bem porque os alunos querem aprender mais (passam mais tempo fazendo lição de casa por opção porque vêem o Duolingo como um jogo) e os professores têm uma base muito boa de ensino na sala de aula, ou pelo menos uma ferramenta potente.

– Tem algum outro país que vocês gostariam de estar agora?

A China. China e Índia são muito difíceis por razões muito diferentes.

A China é completamente diferente do resto do mundo. Tudo que fazemos e funciona no resto do mundo, não funciona lá. Uma das maiores dificuldades para nós é que o Google não existe no país. E já que o Google não existe, não tem a Google Play.

Existem mais de 200 lojas Android e precisamos coordenar relacionamentos individuais com cada uma.

E a Índia é muito difícil por outras razões. Por exemplo, eles não tem um idioma unificado então todos querem aprender línguas diferentes a partir de idiomas diferentes.

Também não existe localização de app store, então é tudo em inglês. Se você utiliza um smartphone lá, provavelmente já fala inglês. Então eles não vão querer usar o Duolingo, entende?

Então é um mercado difícil, mas temos interesse.

– Falando de futuro, as aulas no Duolingo são gratuitas e não há nenhuma publicidade. Devemos esperar um plano pago chegando ou anúncios?

O Duolingo foi criado para dar acesso à melhor educação para todos. A ideia é que ele sempre seja gratuito. A missão mesmo é que todos os alunos possam aprender todo o conteúdo de graça sem nunca ter que pagar.

Em termos de propaganda dentro da plataforma, a gente acredita que banners são muito intrusivos para os usuários e nós prestamos muita atenção em termos de experiência de usuário.

Então existem alguns modelos de negócio que temos explorado: A primeira coisa que estamos fazendo e já tem um ano e está crescendo, é o Duolingo Test Center.

Muitos dos nossos usuários entravam em contato com a gente perguntando sobre qualificação. E aí a gente resolveu criar essa plataforma, que é um centro de provas online e a ideia é que ele seja como um TOEFL [exame de qualificação usado pela maioria das Universidades fora do país], mas você não precisa ir para algum lugar fazer, podendo acessar do computador ou do celular, leva 20 minutos e custa US$ 20.

E já temos alguns parceiros como o governo da Colômbia, a Harvard Extension School e o Uber, além de várias outras faculdades e empresas menores. Se conseguirmos cobrar para certificar mas não pela educação, já esta valendo para nós.

A gente pensou também em fazer uma propaganda nativa que não atrapalha o usuário e que melhora a experiência: Por exemplo, se você quer aprender a pedir uma Coca-Cola nos EUA, você não fala “Can I have a soda?”. Você fala “Can I have a Coke?”.

Então, aprender a falar marcas é importante para o usuário e ao mesmo tempo tem empresas que se interessariam em estar nesse contexto. Mas nós estamos testando ainda.

– Tem alguma novidade no Duolingo que vocês estão trabalhando e podem compartilhar com a gente?

O Duolingo está mudando, logo vamos lançar uma versão nova, com muito mais ilustrações e personagens.

* Gina nos deu screenshots da nova versão e disse que, por enquanto, só está em espanhol, mas em breve estará em todas as línguas:

screenshot-novo-duolingo-tile

– E por último, uma pergunta mais pessoal: Como foi para você apresentar o Duolingo para ninguém menos que Barack Obama?

Foi inacreditável [risos]. Foi literalmente inacreditável. Nós não estávamos esperando que ele aparecesse.

Fomos convidados para apresentar o Duolingo na Casa Branca, e era bem legal já estar na Casa Branca, mas nós achávamos que o Obama estaria, no máximo, na sala. Longe, sabe? [risos]

E fomos saber só vinte minutos antes, então não teve nem como se preparar.