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Entrevista exclusiva com Thiago Diniz, CEO da Nuuvem

A Nuuvem é a maior loja de distribuição digital de jogos da América Latina. Inaugurada em 2011, atualmente conta com um milhão de usuários cadastrados e mais de 1000 jogos no acervo. Empresas como a SEGA, EA, Ubisoft, Paradox e Activision estão representadas na loja que compete em pé de igualdade com outros serviços similares, como o Steam, da Valve, ou o Origin, da EA.

Conversamos na manhã de quinta-feira com Thiago Diniz, fundador e CEO da Nuuvem sobre temas como streaming de jogos, pirataria digital, mercado de jogos independentes e a chegada dos novos consoles.

nuuvem

A pedido do entrevistado, a entrevista abaixo foi editada:

O sonho da Nuuvem começou em 2009, com o projeto eGamers Digital, que disponibilizaria jogos por streaming. Cinco anos depois e temos a Sony anunciando uma ideia muito parecida através da PlayStation Now. Pode-se dizer que vocês estavam à frente do seu tempo?

Sim, neste caso foi realmente. Na época, havia nós e o onLive. Chegamos  a anunciar, mas não lançamos. Através de vários testes que fizemos no Brasil e na Argentina, visualizamos que não era o momento ainda. Tivemos muitos resultados bons no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas quando íamos para outras regiões os resultados ficavam muito, muito ruins.

Decidimos, então, pular aquilo por um bom tempo.  Nos adiantamos aos problemas que poderiam vir. O onLive não segurou a pancada, não deu resultados e faliu. Não era o momento. Não era o timing do mercado.  Detectamos isso antes e, ao invés de continuar, resolvemos deixar isso mais pra frente e lançar uma plataforma “mais simples” e seguir a linha dos outros, como Gamersgate, Get Games, Steam e oferecer download direto e, eventualmente, voltaríamos para esta ideia de novo.

O PlayStation Now está implementando isso nos Estados Unidos e não tem em outras regiões. Por quê? Por que ele vai sofrer muitas dificuldades se quiser trazer esse serviço pro Brasil, porque os custos de infraestrutura estão absurdos. Então, para garantir um retorno do investimento que ela teria aqui vai demorar um bom tempo. Eu acredito que o PlayStation esteja lançando no Brasil em 2015, por milagre. É mais provável esperar por 2016. Este será o momento em que este tipo de tecnologia vai começar a impactar.

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Mas eu acredito que o futuro desta tecnologia não é desta forma. Eu acredito que seja um balanço entre o client e a cloud. O que seria isso? Aproveitar recursos do computador local junto com recursos da cloud. Não só fazer streaming. Em eSports isso é vital. Quando você cria um tipo de tecnologia você tem que pensar em todo o tipo de uso em que ela será abordada. Então, você não pode só pensar em jogos single-player, que não necessitam de um delay muito curto. Quando você cria algo desse tipo, tem que ser possível para todos.

O futuro deste tipo de tecnologia é balancear, tipo um Dropbox. Utilizar processamento local para agilizar para que o jogador não sinta nenhuma diferença em relação a um jogo que ele tenha baixado e instalado no computador. Mas ao mesmo tempo estar rodando na cloud. É meio que uma mágica, mas esse vai ser o ideal.

E um “Nuuvem Now”?

(risos) O “Nuuvem Now” por enquanto não tem previsão. Como nosso foco realmente é América Latina, ainda não é o momento para este tipo de serviço. O PlayStation Now também vai demorar a chegar no Brasil. Se serviços como o Xbox Live demoraram tanto para chegar aqui só com downloads, imagina serviços como este do PlayStation Now que requerem uma infraestrutura muito mais alta.

Mas se conseguir chegar antes, melhor para os jogadores!

Thiago Diniz
Thiago Diniz

Uma das características mais elogiadas da Nuuvem é o atendimento personalizado. Como isso é feito?

Temos pessoas aqui que também são fanáticas por jogos e elas entendem muito, elas sentem,  e entendem principalmente os problemas de suporte no Brasil que elas já tiveram. E tendo isso em mente,  queremos oferecer algo cada vez melhor.

Queremos chegar ao ponto de se o cara ligar para a gente e quiser resolver qualquer problema dele, até mesmo sem ter a ver com games, consigamos ajudar essa pessoa. A ideia mesmo no suporte é ajudarmos o jogador. Seja no que for. No que ele precisar, mesmo que seja um problema de outro lugar,  queremos ajudar.

Com isso conseguimos dar um atendimento personalizado, um atendimento diferente, atendendo o que for a expectativa do jogador. Não só tecnicamente como também até pessoalmente! Nós ajudamos!

A pirataria digital ainda é um dos maiores entraves para o crescimento da distribuição digital no Brasil?

Atualmente, não. A questão da pirataria hoje já está muito bem trabalhada. Eu acho que a consciência das pessoas está muito diferente da de três, quatro anos atrás, onde era o padrão, pode-se dizer assim. Mas hoje, principalmente para jogos multiplayer, isso é mínimo, muito pouco. A tendência é diminuir cada vez mais e ficar quase zero.

Com a aparição de novos serviços, de qualidade, que não tentam competir com o .torrent mas oferecer conteúdo a preços justos e as produtoras também se conscientizando que tem que trazer conteúdo para o Brasil por um preço que seja viável para o jogador, a tendência é a pirataria desaparecer. Nossa ideia é oferecer um serviço melhor que o do próprio The Pirate Bay, oferecer um serviço melhor que o dos “pirateiros”. Enquanto você fizer isso, você vai ter resultados melhores que eles e é isso o que está acontecendo.

Ao contrário da indústria do cinema, que não consegue fazer isso de forma apropriada. Tem o Netflix, mas nem os estúdios mesmo apoiam o serviço de forma plena. O Netflix seria uma solução para o problema da pirataria na indústria do cinema, mas eles não acreditam nele, então… é por isso que a indústria do cinema vê tanta pirataria como vê hoje.

A concorrência tem uma área exclusiva para jogos independentes que estão buscando um lugar ao Sol. Dada a proximidade, a Nuuvem tem planos para os desenvolvedores independentes brasileiros?

OnikenTemos um projeto simples, bem direto, onde oferecemos um share maior para o desenvolvedor brasileiro, de 80%. Normalmente a divisão é de 70/30, mas para o desenvolvedor brasileiro o acordo é de 80/20. Justamente para que ele tenha uma margem maior.

Mas a verdade é que a quantidade de jogos brasileiros vendendo para o público brasileiro hoje é mínima. Os principais jogos que a gente tem, por exemplo, como o Dungeonland ou o Knights of Pen of Paper são da Paradox e são os que mais tiveram sucesso. Mas jogos indie mesmo, enraizados, como Oniken ou Mr. Bree tem certa dificuldade para entrarem no mercado. Mas eu acredito que, aos poucos, isso vai melhorar.

Mas a que você atribui essa baixa vendagem dos jogos indie nacionais? Há um preconceito do consumidor?

Existe uma resistência ao conteúdo criado no Brasil. É resultado da pouca quantidade no mercado. E há também aquele problema de o brasileiro achar que “tudo que vem de fora é melhor”. Então, enquanto existir esse preconceito enraizado com a gente daqui vai ter um certo obstáculo.

A não ser que o jogo tenha um sucesso lá fora aí imediatamente ele vai ser um sucesso aqui também. Infelizmente, essa é a realidade.

Mas acredito que cada vez mais iremos ver mais produtos criados com aspectos brasileiros de qualidade. Isso vai começar a mudar na cabeça do jogador brasileiro.

A chegada dos novos consoles teve algum impacto nas estatísticas de consumo de jogos de PC?

Não. Por que o jogador de PC já está firme ali, desde sempre, ele gosta de jogar os jogos de PC, ele já tem várias formas de fazer isso. Se ele quiser jogar ao estilo dos videogames, na sala, ele faz a conexão com a televisão, com o controle, ele já conhece as vantagens do PC em relação aos consoles.

O jogador de console é diferente. Ele não quer se preocupar com customização, com personalização, se o computador dele vai rodar o jogo ou não. Ele quer pegar o videogame e jogar. Então, ele já está acostumado com aquilo e vai comprar os novos consoles.

São públicos diferentes. No momento, estamos vendo um crescimento dos jogadores de PC graças ao avanço dos PCs no Brasil, com cada vez mais as pessoas que utilizam PC adquirindo mais conhecimento e jogando. E tem o surgimento dos jogos casuais que formam quase uma linha gamer: Candy Crush, Angry Birds e vai evoluindo.

Recentemente a Valve revelou 13 modelos de Steam Machines na CES. Como encarar um PC que é todo focado para uma única loja virtual?

Como é um projeto open source focado na sala de estar, eu acho que não vai ter nenhum impacto imediato na gente ou nos outros competidores. Porque o foco agora da Valve é a sala de estar e eles estarão competindo diretamente é com a Sony, a Microsoft e a Nintendo.

De certa forma, vai ser bom para a indústria de PCs porque, como é um sistema open source,  pode ser que os jogadores adquiram outros conteúdos em outras lojas também, de competidores deles.  Vai expandir ainda mais o mercado de PC, agora para um outro local.

Só uma coisa que eu acho que vai prender muito o sucesso das Steam Machines que são os preços. Estão muito altos. Mesmo que sejam fabricados no Brasil, não vão ficar muito baratos se comparados com os outros consoles. Então, acho que vai ter bastante resistência no início e somente a partir da própria utilização do sistema operacional, e daqui a uns dois, ou três anos, a situação deve estabilizar. Vai demorar bastante.

Ouvi dizer que você já foi campeão mundial do jogo Battle for Middle Earth! Pode contar um pouco dessa história?

Sempre fui apaixonado por O Senhor dos Anéis e em 14 de Dezembro de 2004 comecei a jogar o Battle for Middle-Earth. Infelizmente, hoje os servidores nem funcionam mais, a EA perdeu os direitos em cima da série, acabou. É triste.

Mas eu fui muito viciado no jogo, jogava direto e aí naturalmente fui evoluindo, entrando para clãs e participando de guerras. Jogava com pessoas lá de fora, disputando partidas. Até que chegou a um ponto, um bom tempo depois, em que passei a ganhar alguns torneios. Até vencer o campeonato mundial.

The Battle for Middle-Earth

E foi muito legal porque tive contato com a própria EA e foi aí que despertou meu interesse para a área. Fiz essa conexão com eles, tive acesso a jogos alpha, os ajudei no balanceamento dos jogos como um tipo de play-tester de refinamento. Aprendi muito sobre o processo de desenvolvimento de um jogo. Tive noções de produção, comercialização, foi muito legal. Daí fui me interessando cada vez mais e agora estou aqui (risos).

Os MOBAs trouxeram uma nova explosão dos esportes eletrônicos, com vários eventos acontecendo no exterior. A Nuuvem tem algum interesse em patrocinar esse tipo de competição?

No momento, não. Um dos nossos passos no futuro é ou desenvolver ou ajudar os desenvolvedores independentes no Brasil a criar jogos e eu acredito que nessa ajuda, nessa parceria, se esse jogo tiver uma linha de eSports, aí sim a gente vai entrar com um apoio na área de esportes eletrônicos. Por enquanto, ainda não. Mas eu entendo que a indústria é muito fantástica.

Em sua primeira semana, a Nuuvem tinha pouco mais de 100 jogos no catálogo. Agora, já são mais de 1200. E um milhão de usuários cadastrados no site. Qual é a meta para 2014?

A meta é a expansão global e trazer algo novo para a indústria. Não queremos ser mais uma loja no mercado. Queremos trazer novidades para os jogadores.

Organizar a maior plataforma de distribuição digital do país não deve ser moleza. Ainda sobra um tempinho para jogar? O que está jogando no momento?

Tenho bem menos tempo, bem menos agora. Basicamente eu só jogo um pouquinho de cada jogo, para entender.

Tenho gostado muito do Assassin’s Creed IV, renovou a franquia de forma sensacional, foi para outros lados muito interessantes. A batalha naval é incrível. E eu diria que é o jogo que mais tem me chamado a atenção ultimamente, pena que eu não venho tendo muito tempo para jogar.

Outro, que eu deixei passar, mas estou jogando agora é o L.A. Noire. Sensacional, é um jogo muito bom mesmo.

E Lord of the Rings Online, não, já que é baseado em O Senhor dos Anéis?

(risos) Não, MMOs não, são muito viciantes, requerem muito tempo. Mas eu me interessei bastante pelo Shadows of Mordor, estou de olho nele.