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Após venda ao Naspers, BuscaPé mira o exterior

Buscapé mira o exterior.
Presidente do Buscapé, o maior provedor de serviços de comércio eletrônico do país, o engenheiro Romero Rodrigues comemorou, na quinta-feira, seus 32 anos como um dos empresários mais bem-sucedidos do ramo. Dois dias antes, ele tinha anunciado a venda de 91% de sua empresa –construída com três colegas de faculdade– por US$ 342 milhões ao Naspers, um grupo de mídia com sede na África do Sul.

O negócio é o maior desde o estouro da bolha, a crise que levou diversas empresas de internet à falência entre 2000 e 2001. Com a assinatura do acordo, um dos sócios-fundadores do Buscapé, Mario Letelier, deixou o grupo. Pelo lado do Bondfaro, concorrente do grupo que foi adquirido em 2006, outros seis fundadores também venderam suas cotas. Estimativas indicam cifras entre US$ 5 milhões e US$ 7 milhões para cada um.

A partir de agora, continuam no comando da empresa Romero Rodrigues, presidente do grupo, Rodrigo Borges, Ronaldo Takahashi, todos fundadores do Buscapé, e Rodrigo Guarino, do Bondfaro. Eles assumem o compromisso de continuar por pelo menos mais cinco anos na companhia para levar adiante um projeto de internacionalização.

FOLHA – Com essa venda, quais os novos rumos do BuscaPé?

Romero Rodrigues – As conversas demoraram dois anos e só fechamos o negócio porque a Naspers aceitou que continuássemos no comando, desenvolvendo um produto com programadores brasileiros, do jeito brasileiro. Se tivesse sido um grande grupo de internet mundial, talvez não preservássemos nem a marca BuscaPé e estaríamos “tropicalizando” o nosso produto [o software que permite comparar preços pela internet]. A partir de agora, temos dois desafios: internacionalizá-lo e integrar as nove marcas que adquirimos entre 1999, quando lançamos o BuscaPé, e 2006, com a aquisição do Bondfaro, o nosso principal concorrente.

FOLHA – Quais as metas de expansão internacional?

RODRIGUES – Até o final deste ano o Buscapé estará em 27 países na América, incluindo os EUA, e em países da África e da Ásia de língua portuguesa. Hoje temos escritórios só em quatro países. Inicialmente, apenas o serviço estará funcionando, o que significa deixar o software à disposição dos consumidores, captando preços de diversas lojas virtuais interessadas em participar. Nessa fase, não haverá custo para esses lojistas porque queremos primeiro testar esses mercados. Naqueles que se mostrarem mais promissores, vamos montar escritórios até o final de 2010.

Aí, sim, começaremos a capitalizar. Se após fazer uma busca de preço em nosso site o consumidor clicar sobre o produto de determinado lojista cadastrado para adquiri-lo, o lojista paga pelo clique ao BuscaPé [concluindo ou não a venda]. É daí que vêm 70% de nossa receita. O restante vem das nossas outras marcas [QueBarato!, e-Bit, CortaContas, Pagamento Digital, Confiômetro, Wiki2Buy, FControl, Bondfaro)].

FOLHA – O que é exatamente a integração entre essas marcas?

RODRIGUES – Um exemplo: temos o QueBarato!, um site de classificados gratuitos. Por ele, dá, por exemplo, para vender uma geladeira usada. Mas tanto o comprador como o vendedor correm riscos [o comprador pode dar um golpe e não pagar se receber a mercadoria]. Isso não acontece se a venda ocorrer por intermédio do Pagamento Digital, uma empresa nossa que intermedia a compra. Ela aceita que o comprador pague com o cartão de crédito, até parcelando o total, e o vendedor recebe o dinheiro em até 15 dias [em geral, após a entrega da mercadoria].

Hoje já oferecemos essa opção, mas as duas ferramentas não funcionam conjuntamente. Os interessados teriam de fazer cadastro em ambos os serviços e isso não é uma operação rápida. Tecnologicamente falando, integrá-las é o caos. São sistemas desenvolvidos em separado e que são diferentes. O trabalho agora é juntá-los, transformando esse “Franksteinzinho” em uma Gisele Bündchen.

FOLHA – Você poderia ter vendido sua participação ao Naspers por uma fortuna. Por que decidiu ficar?

RODRIGUES – Poderia largar e ficar curtindo, mas não faria sentido para mim. Sempre persegui a ideia de fazer um negócio que fosse grande e foi assim que trouxemos o BuscaPé até aqui. O dinheiro seria consequência, nunca o primeiro objetivo. Mesmo quando procuramos sócios investidores, esse foi o foco: continuaríamos à frente, fazendo do nosso jeito.

Além do mais, meu dinheiro está aplicado aqui e tenho um sócio que vai me permitir crescer ainda mais. Não conseguimos ainda arrumar motivos para ir embora, a não ser que fosse para pegar o dinheiro e viajar pelo mundo, mas são coisas excludentes. [Mario Letelier, sócio-fundador, saiu porque pretendia ficar dois anos viajando pelo mundo].

Com informações de Folha de S. Paulo.