Depois de ter conseguido uma pequena vitória nos tribunais de Nova York, nesta terça-feira também foi a vez da Apple enfrentar uma audiência de mais de 5 horas de duração diante do Legislativo americano.
O conselheiro da empresa Bruce Sewell esteve frente a frente com o diretor do FBI, James Comey, e com o promotor do Distrito de Manhattan, Cyrus Vance, para prestar esclarecimentos sobre o caso San Bernardino.
A audiência perante uma comissão do Congresso americano foi iniciada com o depoimento do diretor do FBI. Comey voltou a bater na tecla contra o uso da encriptação, ainda que a agência venha nos últimos dias tentado explicar que este não é o cerne do impasse: “eu acredito que a lógica da encriptação irá nos levar, em um futuro não muito distante, a um ponto onde todos os nossos documentos e efeitos serão totalmente privados”.
E reiterou com uma pergunta sombria: “se existirem espaços à prova de mandados na vida americana, o que isso significará? Quais serão os custos disso?”. Seu argumento é de que a encriptação irá inviabilizar todo o processo investigativo em breve. Analistas apontam que esse é o verdadeiro alvo do FBI e não os dados contidos no iPhone 5C de um dos terroristas responsáveis pelo atentado de Dezembro do ano passado.
Rumores apontam que o FBI teria como acessar as informações contidas no smartphone bloqueado, mas estaria interessado em achar uma forma mais ampla de minar o uso de criptografia. Sobre esses rumores, James Comey foi categórico: “se nós pudéssemos ter feito isso sossegadamente e em segredo, nós teríamos feito”. O diretor da agência explicou que entrou em contato com diferentes especialistas, inclusive de outros órgãos de Inteligência, e não conseguiu encontrar uma solução que não envolvesse a ajuda da Apple.
Bruce Sewell, representando a Apple, também teve que responder sobre rumores. Mais especificamente sobre as insinuações de que a empresa estaria se recusando a atender as solicitações do FBI como uma jogada de marketing: “nós não colocamos cartazes que falam sobre nossa segurança. Nós estamos fazendo isso porque nós pensamos que proteger a privacidade e a segurança de milhões de usuários do iPhone é a coisa certa a ser feita.”
E acrescentou para o comitê: “afirmar que isso é uma questão de marketing ou está relacionada de alguma forma com Relações Públicas diminui o que deveria ser uma conversação muito séria”.
No cenário político atual, o Congresso americano vem estudando de longa data uma forma de regular o uso de encriptação. A morosidade do poder Legislativo sobre a questão pode ter motivado o FBI a buscar uma saída através da Justiça. Mas o resultado não agradou os membros do Congresso.
O Senador Democrata John Conyers, presente à audiência, expressou o seu temor: “o que me preocupa é que em meio a um debate corrente sobre o tema, o FBI teria pedido a um magistrado federal para que lhe conceda o acesso especial para segurar produtos que essa comissão, esse Congresso, e essa administração tem se recusado a fornecer até então”.
Convers arrematou: “Eu ficaria profundamente desapontado se isso acabasse com o governo se revelando explorando uma tragédia nacional para perseguir uma mudança na lei”. Essa visão é compartilhada entre os dois partidos e o Senador Republicano Raul Labrador declarou que “casos ruins geram leis ruins” e que “claramente esse é um caso ruim”.
Se você tem tempo e um bom domínio do inglês, a audiência está disponível na íntegra no vídeo abaixo: