A ONG Think Olga revelou um dado estarrecedor nesta terça-feira durante a CPI dos Crimes Cibernéticos da Câmara dos Deputados: a idade média das vítimas de assédio online no Brasil é de menos de 10 anos.
A audiência pública estuda os casos de crimes virtuais cometidos dentro e fora das redes sociais no país para a publicação de um relatório que deve pautar as políticas públicas no setor nos próximos anos.
Segundo o levantamento realizado pela Think Olga, entre 3000 mensagens envolvendo pedofilia publicadas no Twitter e analisadas pela ONG, a idade média registrada para as vítimas foi de 9,7 anos. Os dados foram computados após a campanha de conscientização #PrimeiroAssedio, que estimulava os internautas a revelarem situações de assédio sexual vivenciadas na infância.
A campanha foi uma resposta da ONG contra o número alarmante de publicações de cunho erótico nas redes sociais direcionadas uma jovem participante de um programa de TV, de apenas 12 anos. Para Juliana de Faria, criadora da campanha que estava presente na CPI, “A gente precisa mostrar que isso é uma violência. Ainda existe essa mentalidade de que isso não é uma violência e para a gente poder chegar a uma solução é (preciso) compreendermos todos que é uma violência e nós, que somos vítimas, precisamos nos enxergar também como vítimas.”
Ela explica que a ideia ainda enfrenta resistência: “Eu sei que isso que estou falando parece uma obviedade, mas quando a gente começou a campanha Chega de Fiu Fiu, sobre assédio sexual, três anos atrás, as pessoas batiam no meu ombro e falavam: ‘como você é exagerada, isso é só uma cantada'”.
Já para Maíra Liguori, autora da campanha “Manda Prints”, também promovida pela Think Olga, há uma tendência cultural brasileira de culpabilizar a vítima. “Quando a gente fala, principalmente de vazamento de fotos, a gente, normalmente, culpa a vítima. A gente diz: quem mandou ela fazer essa foto, quem mandou ela mandar para o namorado? A gente não está olhando para o verdadeiro criminoso que é o cara que vazou essas imagens”, explicou Liguori.
O Deputado Leo de Brito (PT-AC), Vice-presidente da CPI dos Crimes Cibernéticos, acredita ser necessária uma mudança nessa mentalidade: “vamos trabalhar uma cultura de dignidade, de respeito às mulheres. Não vamos trabalhar necessariamente para enrijecer a legislação penal, mas como a gente pode trabalhar políticas públicas que possam enfrentar esse tipo de situação”.