O término das investigações sobre sexismo, assédio e cultura tóxica provocou uma crise de proporções colossais no Uber nessa terça-feira.

Nada menos que o próprio CEO da empresa,  Travis Kalanick, pediu afastamento por tempo indeterminado das operações do Uber e no final do dia um dos membros do conselho diretor seguiu o mesmo caminho após o vazamento de uma gafe fenomenal.

A posição de Kalanick dentro do Uber estava abalada desde sua participação relâmpago no governo Donald Trump e a primeira crise #DeleteUber. Uma documentada explosão de fúria diante de um motorista do próprio serviço arranhou fortemente sua imagem pública logo em seguida. Sua aparente incapacidade de controlar as próprias emoções ou gerir a empresa, assolada por escândalos e pela saída de executivos importantes, teriam desagradado os acionistas.

Mas, em carta enviada aos funcionários, Kalanick ofereceu outra forte explicação para seu pedido de afastamento. Um trágico acidente de lancha recentemente tirou a vida de sua mãe e o executivo alega que precisa de tempo para se recuperar e reavaliar seu papel no comando da empresa. “Eventos recentes me apontaram que pessoas são mais importantes que trabalho, e que eu preciso tirar um tempo fora do dia a dia para lamentar minha mãe, que enterrei na sexta-feira, para refletir, para trabalhar em mim mesmo.”, escreveu Kalanick.

“Para o Uber 2.0 ter sucesso não há nada mais importante do que dedicar meu tempo para construir um time de liderança”, também escreveu o executivo. “Mas se nós iremos trabalhar em um Uber 2.0, eu também preciso trabalhar no Travis 2.0 para me tornar o líder que essa empresa precisa e que você merece”, completou.

O pedido de afastamento de Kalanick coincide com a recomendação oficial da investigação conduzida pela empresa sobre as falhas de recursos humanos e relacionamento entre funcionários. Após a demissão de 20 profissionais, o relatório final sugere uma reformulação dos valores culturais do Uber, uma troca da liderança sênior e um monitoramento mais próximo do conselho de diretores.

Entretanto, o próprio conselho diretor também demonstra sinais de desgaste: durante a reunião marcada para debater o relatório sobre a presença de sexismo na empresa, um dos membros do conselho, David Bonderman, fez um comentário extremamente inadequado em relação a Arianna Huffington, também integrante do conselho e encarregada direta de uma das investigações.

Quando Huffington aponta que quando “existe uma mulher no conselho, é muito mais provável que haja uma segunda mulher no conselho”, Bonderman replicou que “o que isso mostra é que é muito mais provável que haja mais falação” sobre o tema.

O áudio da reunião vazou para a imprensa e provocou um mal-estar que levou ao pedido de afastamento de Bonderman de sua posição no conselho. Em nota divulgada, David Bonderman admitiu que o comentário foi “descuidado, inapropriado e indesculpável” e solicitou o próprio afastamento. E completou: “eu mesmo preciso abraçar os mesmos padrões que nós estamos pedindo para o Uber adotar”.