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Mercado negro de iPhone cresce em todo Mundo

George Hotz ganhou até a promessa de um emprego
Acomodados nos corredores do imenso mercado de eletrônicos de Zhongguancun Kemao, em Pequim, é possível encontrar muitos comerciantes como Li Zhongjin, da Beijing Xinyu Lianhe Telecom Equipment. Sentado em uma banqueta diante da barraca a céu aberto, no terceiro e último andar do mercado, ele observa as multidões de consumidores à procura de interessados. Não existem traços de modelos Apple iPhone entre os celulares, capas de telefones e outras engenhocas exibidos na barraca, mas ele tem um modelo guardado longe das vistas curiosas, para demonstração. Pagando à vista, ele diz, “você pode comprar quantos quiser”.

A promessa parece estranha, em um mercado no qual a Apple ainda não lançou o iPhone. O aparelho só está à venda oficialmente nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França, até o momento, e nestes mercados a Apple assinou acordos de exclusividade com operadoras de telefonia móvel, por exemplo a AT&T. Mas o florescente negócio de Li representa um verdadeiro subproduto da demanda reprimida por um aparelho muito procurado, fabricado por uma empresa que estabelece limites severos quanto aos locais e as datas de venda.

E Li representa apenas a ponta do complexo e cada vez mais amplo mercado clandestino de iPhones, que se estendeu pelo mundo e abarca importadores e exportadores chineses sem nome, uma fábrica de semicondutores na Europa Oriental, empresários no Oriente Médio e Austrália e agentes cuja missão é adquirir o máximo permitido de iPhones nas lojas da Apple e de seus parceiros nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. E não devemos esquecer dos incontáveis varejistas de pequeno porte dispostos a comprar e revender iPhones por preços inflacionados a consumidores de todo o mundo.

Fontes da revista BusinessWeek confirmaram estimativas de analistas de que entre 800 mil e um milhão de iPods, ou seja de 20% a 25% do total vendido até aqui, estão “desbloqueados” – o que quer dizer que eles foram alterados para operar em outras redes de telefonia móvel que não as dos parceiros exclusivos da Apple.

Esse mercado secundário de iPhones se desenvolveu com grande rapidez. Quando o aparelho chegou às lojas, em 29 de junho de 2007, hackers de software e empresas especializadas em desbloquear celulares já estavam trabalhando em maneiras de permitir que o iPhone operasse com redes não autorizadas. Dentro de semanas, as listas de discussão da Internet estavam fervilhando, devido a uma resposta oferecida por uma empresa minúscula sediada em Praga, na República Tcheca.

Pavel Zaboj, 36, é um ex-estudante de matemática que, em parceria com amigos, desenvolveu um aparelho chamado Turbo SIM, que foi projetado para transformar celulares em sistemas de pagamentos móveis. Acontece que o Turbo SIM também pode ser usado para ludibriar o iPhone e levá-lo a acreditar que esteja operando em uma rede da AT&T, e permitindo que ele tenha acesso a qualquer operadora. Pela metade de agosto, a empresa de Zaboj, a Bladox, que tem 10 funcionários, estava soterrada de pedidos, vindos especialmente do Canadá e do México, onde os viciados em produtos Apple ainda não têm o direito oficial de usar o iPhone. A Bladox estava completamente despreparada, e não tinha como atender aos pedidos que chegavam sem parar. “Nós ficamos lá, boquiabertos”, diz Zaboj.

Sem interferência da Apple
A Bladox já vendeu os aparelhos usados para desbloquear o iPhone a clientes de cerca de 100 países, entre quais Polinésia francesa e Afeganistão, de acordo com Zaboj. A revista BusinessWeek afirma que seus leitores informaram sobre vendas de iPhones no Brasil, Canadá, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Israel, Nigéria, Peru, Polônia, República Dominicana e Rússia.

Esse boom vem sendo alimentado não apenas pela baixa oferta de um produto bastante cobiçado como também pela falta de sinais de que a Apple ou seus parceiros, as operadoras de telefonia móvel autorizadas pela empresa (AT&T, Orange e T-Mobile, da Deutsche Telekom), estejam dispostas a interferir. Os parceiros da Apple perdem centenas de dólares em taxas mensais de assinatura quando os assinantes cancelam seus contratos obrigatórios de dois anos e optam pelo desbloqueio. Mas a maior parte dos aparelhos desbloqueados parece estar sendo vendida em países nos quais os usuários não dispõem de operadoras “oficiais” por meio das quais possam adquirir o aparelho.

Embora a Apple receba centenas de dólares por iPhone vendido a cada vez que um assinante ativa uma conta com as operadoras autorizadas, a maioria dos analistas concorda em que a mania do desbloqueio ajuda a difundir a marca Apple. O maior risco seria um processo judicial que tentasse coibir a aquisição ilegal de iPhones. A Apple e a AT&T restringem o número de exemplares que uma pessoa pode adquirir.

Recentemente, a AT&T Mobility abriu um processo contra revendedores do celular GoPhone, alegando que as empresas desbloqueiam o aparelho barato e o vendem a preço mais alto. Mark Siegel, porta-voz da AT&T, preferiu não comentar sobre a possibilidade de a empresa abrir processos contra pessoas que adquiram iPhones indevidamente, ainda que tenha acrescentado que “os iPhones são vendidos para uso pela pessoa que os adquire”, e não para revenda com propósitos comerciais.

Tradução: Paulo Migliacci ME

Com informações de Terra.