O novo pacote econômico anunciado na quinta-feira passada pelo presidente Michel Temer e pelo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pode ter uma vitima inesperada: o Nubank.
O banco virtual será obrigado a encerrar completamente suas atividades se o Banco Central confirmar nessa terça-feira a mudança no prazo de pagamento de vendas para lojistas.
No modelo vigente atualmente no Brasil, o cliente realiza suas compras com o cartão de crédito e o lojista só recebe o dinheiro após 30 dias do ato da venda. A proposta do governo para impulsionar a economia é reduzir esse prazo drasticamente para dois dias, conforme o sistema adotado em outros países, como os Estados Unidos. Desta forma, o varejista teria acesso mais rápido ao valor da venda.
Entretanto, a mudança súbita quebraria as pequenas operadoras de cartão de crédito, como a Nubank. Cristina Junqueira, uma das cofundadoras do banco digital, explicou a origem do problema: “atualmente, um cliente que usa o cartão pagará a fatura, em média, 26 dias depois. Assim, o Nubank, como emissor, receberá o dinheiro apenas após este prazo. Com o dinheiro, pagamos o adquirente (operador do cartão), que leva mais dois ou três dias para pagar o varejista. Isso dá o prazo de 30 dias”.
Reduzindo o prazo de pagamento para dois dias, o Nubank se veria forçado a pagar o lojista muito antes do usuário quitar a fatura do cartão. Sem uma receita volumosa como os grandes bancos, mas com 1 milhão de cartões emitidos desde 2014, o banco digital precisaria captar recursos no mercado para honrar o valor devido aos lojistas no novo prazo estipulado pelo governo. O prazo ainda não foi confirmado e há a possibilidade de que a mudança não seja tão abrupta, mas a menor alteração já causaria impacto.
“Mudar dramaticamente, reduzir o prazo para dois dias, isso seria apocalíptico para a gente”, declarou Junqueira. “Nós já fizemos algumas simulações. Com dois dias é apagar a luz e fechar a porta. Com 15 dias, a gente precisaria de quase R$ 1 bilhão de capital adicional do dia para a noite”. Mesmo que consiga pegar empréstimos para cumprir o prazo determinado, o Nubank não teria margem para pagar os juros da dívida adquirida, inviabilizando toda sua operação.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o governo ainda estuda a mudança do prazo e é possível que ela não aconteça. A decisão final será comunicada nessa terça-feira (20) pelo Banco Central e o futuro do Nubank e outros emissores menores dependerá do que for anunciado.