Faltando apenas um dia para que a Apple responda nos tribunais sobre seu impasse com o FBI, Tim Cook vai à rede de televisão ABC e compara ferramenta solicitada pelas autoridades com um “câncer” de software.
Enquanto isso, a Apple já estaria estudando uma forma de blindar ainda mais os iPhones no futuro para que a empresa não consiga mais ajudar qualquer pedido de facilitação de desbloqueio pela Justiça.
O CEO da Apple, Tim Cook, participou do programa de entrevistas ABC World News Tonight, transmitido para os norte-americanos em rede nacional. O executivo demonstrou empatia pelas vítimas do massacre de San Bernardino, mas voltou a mencionar que a posição da Apple não está ligada ao caso desse único iPhone apreendido pelo FBI, mas é uma luta muito mais ampla pela privacidade e liberdades civis de todos os cidadãos.
“Esse caso é sobre o futuro. O que está em jogo aqui é se o governo pode compelir a Apple a escrever um programa que nós acreditamos poderia tornar vulneráveis centenas de milhões de usuários em todo o mundo”, explicou Cook. E foi além ao descrever a ferramenta de “chave-mestra” solicitada pelo FBI: “um elemento de software que nós vemos como um tipo de equivalente em software ao câncer. Nós acreditamos que seria ruim criá-lo. Nós nunca o criaríamos. Nós nunca o teríamos criado”.
O CEO da Apple concluiu a entrevista defendendo que irá manter sua posição: “nós sabemos que fazer isso poderia expor as pessoas a vulnerabilidades inacreditáveis. Isso é algo que nós não iríamos criar. Isso seria ruim para a América. Eu acredito que estamos tomando a decisão correta”. Tim Cook também prometeu conversar com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a questão.
O FBI está solicitando uma versão customizada do iOS 8 para ser entregue exclusivamente no iPhone 5C de um dos autores do atentado em San Bernardino no ano passado. Essa versão permitiria que as autoridades realizassem múltiplas tentativas de adivinhar a senha de desbloqueio do dispositivo, sem que seu conteúdo seja apagado por mecanismos de defesa da criptografia.
Entretanto, segundo fontes do The New York Times a Apple já trabalha em uma atualização global do seu sistema operacional que impediria essa via de ação. A ideia no futuro é impedir que a própria Apple seja capaz de alterar o firmware dos dispositivos sem o uso da senha do usuário, literalmente deixando o próprio fabricante trancado do lado de fora.
A medida impediria que a Apple fosse coagida por autoridades governamentais a cooperar no desbloqueio de seus produtos. De mãos atadas, a empresa ficaria livre de processos na Justiça. Mas a estratégia pode gerar um mal-estar ainda maior entre representantes do governo e a empresa, o que poderia obrigar os legisladores a entrarem em uma batalha ainda mais complexa para forçar a Apple a mudar seus planos.